quinta-feira, 9 de abril de 2015

Edla: viver com ataxia em outra nação!


Foto de Edla em seu facebook

Nunca imaginei morar fora do meu país, mas as circunstâncias me trouxeram para a Alemanha. 

Mudar de país, assim como, certas situações de vida, são experiências difíceis de traduzir. É preciso vivê-las para saber o que se sente. O diferente atrai, estimula a curiosidade, mas também assusta. Não há como viver a experiência sem stress. Há necessidade de mudar de idioma, de clima, de costumes, enfim, adaptar-se, transformar-se. Não me senti na obrigação de fazer grandes mudanças, pois migrei com mais de cinquenta anos, fora do  mercado de trabalho, pois já estava aposentada por tempo de serviço; foram 32 nos dedicados ao magistério no Brasil e como sabemos, é na infância e também na juventude que o processo de adaptação é mais suave. Estou aqui unicamente por ser a pátria do meu marido e foi conveniente pra nós e também pra nossa filha, vivermos aqui. Porém, a distância do Brasil é geográfica, mas não emocional.


Eu gosto muito de morar aqui: limpo, silencioso, bonito, sério, organizado, pessoas polidas e educadas, boa acessibilidade. Cerca 70% dos brasileiros que moram aqui são mulheres casadas com alemães. Muitas famílias são multiculturais, isto é, alemães casados (as) com estrangeiros (as): asiáticas, africanas, latinas, européias de outros países .

Eu vivo em Darmstadt, cidade da região metropolitana de Frankfurt com 150 mil habitantes. Eu soube que, em Darmstadt há pessoas de 147 nacionalidades diferentes. Nas imediações existem cerca de 100 brasileiros de origens sociais diferentes.

Em Frankfurt 28% da população nasceu em outro país. É significativo o número de muçulmanos entre a população de origem estrangeira. Por ser um país com muitos imigrantes (maioria turco) é mais acostumado com a diversidade cultural do que outros países, principalmente nas grandes cidades. Eu gosto desta diversidade cultural. A globalização e a internet, permitem que eu viva o Brasil diariamente sem estar fisicamente nele.

Além do computador, eu tenho um rádio que através da internet, sintoniza aproximadamente 300 estações de rádio no Brasil. Continuo consumindo com frequência: farinha de mandioca, cangica, tapioca, creme de leite, goiabada, feijão preto ... e até rapadura eu já encontrei aqui (produzidos no Brasil). Coco ralado, leite de coco, coentro, banana, manga, mamão, aipim (mandioca, macaxeira), abacaxi, vindos da Ásia, África e América Latina, e assim, satisfaço o meu paladar.

Como sabemos, a Alemanha foi duramente castigada por ter provocado o conflito e por isso, ficou em ruínas ao final da Segunda Guerra Mundial. Em 11 de setembro de 1942, Darmstadt foi intensamente bombardeada, este fato ficou conhecido como a longa noite do incêndio. Não se mexe em nenhum terreno sem que pessoas especializadas liberem. Foram foram encontradas mais de 700 bombas em 2012.

O ruim aqui é o tempo, o inverno é longo, mas eu tolero, por exemplo, uso meias quase o ano inteiro, não reclamo, aproveito para usar chapéus e cachecóis, adoro ambos e tenho vários.

Conviver com DMJ (Doença de Machado Joseph, a ataxia número 03) é difícil em qualquer lugar do mundo, sendo assim, eu não sou privilegiada por viver na Alemanha. A redução da mobilidade provocada pela doença me impede de vivenciar este país como eu gostaria.


Edla Merlitz
10.04.2015


quinta-feira, 2 de abril de 2015