segunda-feira, 11 de março de 2013

O amor tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta!


A Luciana Napoli, idealizadora do blog, conheceu o casal Adriana e Sókrates através da internet. O casal se conheceu há alguns anos e depois de anos de namoro o Sókrates descobriu que era portador de ataxia, mesmo com todas as dificuldades que poderiam surgir no futuro, Adriana e Sókrates perceberam que seu amor era muito maior que qualquer dificuldade e decidiram se casar.
A entrevista abaixo conta essa linda história de amor, dedicação e superação diária, mostrando que sim, o amor vence todas as barreiras por mais intransponíveis que possam parecer!


1 -  NOME, IDADE E PROFISSÃO DO CASAL:

Adriana Elias Pires Quevedo, 35 anos, farmacêutica, atualmente pós-doutoranda na UFMS. Sókrates Campos Quevedo dos Santos, 37 anos, contador, atualmente aposentado por invalidez pelo INSS.


2 -  DESDE QUANDO DESENVOLVEU A DOENÇA E COMO PERCEBEU, CONSTATOU DO QUE SE TRATAVA?

SÓKRATES: Apresentei desequilíbrio na marcha depois que saí do Exército, onde fui tenente temporário por 9 anos.


Aspirante do NPOR em 1994.

Eu também era recém-formado em ciências contábeis na UCDB. Percebi o desequilíbrio e suspeitei que pudesse ser algo parecido com o que o meu pai teve. Ele havia falecido há dois anos.


Pai de Sókrates.

Fiquei muito assustado e preocupado. Fui a um neurologista que receitou vitaminas. Como piorava, fui a outro neurologista, que fez o diagnóstico clínico e confirmou por exame genético. Isso foi há 10 anos. Só então minha família e eu descobrimos do que se tratava a doença de meu pai, que não teve diagnóstico, mas era hereditária (50%). Fui com a minha mãe receber o diagnóstico confirmado e ficamos todos muito abalados. Ainda mais porque o médico disse que eu não poderia casar, ter filhos e que deveria solicitar a aposentadoria.

3 - DESDE QUANDO SE CONHECEM? COMO SE CONHECERAM E COMO SURGIU O AMOR DE AMBOS?  

Conhecemo-nos há 14 anos em uma festa de aniversário num mês de junho. Ele estava com os colegas da faculdade e eu fui com uma colega dele, que era minha melhor amiga. Ficamos juntos e depois fomos a uma casa de vinhos delivery da época e começamos a nos encontrar. Eu era estudante de farmácia e ele era militar e estudante de ciências contábeis. Nesse mesmo ano apresentei-o à minha família, fomos com os colegas dele de faculdade acampar num balneário em Bonito e conheci a família dele em Dourados. O amor foi surgindo aos poucos durante nossos encontros.

Beto Carrero (1999), Copacabana (2003), Interlagos (2007).

Eu o admiro e amo muito. Ele conquistou toda a minha família e eu me dou bem com a família dele. Eu sou ansiosa, insegura, subjetiva, dedicada e responsável. Ele é seguro, centrado, objetivo, calmo e cativante. Somos um casal que se completa e nos divertimos muito juntos.  

4 -  QUANDO RESOLVERAM SE CASAR? CONTE UM POUCO.

ADRIANA - Quando ele recebeu o diagnóstico éramos namorados há 5 anos. Amávamo-nos muito e adiávamos um compromisso mais sério porque eu não havia terminado os estudos, estava no meio do mestrado. Mas no meu coração o diagnóstico bateu como um pedido de urgência. Queria viver ainda muita coisa ao lado dele, queria casar, montar uma casa nossa, morar junto. Víamo-nos praticamente todos os dias. Na época eu morava com minha mãe e irmã e ele com um colega. Conversei com ele sobre casar e ele perguntou se eu estava disposta a casar, mesmo com a doença e suas consequências. Eu estava. Nossos pais concordaram e apoiaram a nossa decisão. Começamos a procurar uma casa e os preparativos do casamento. Em setembro de 2005 nosso casamento foi lindo e emocionante.


 Fotos do casamento em 2005.


Desde então moramos na nossa casa. Ele trabalhou alguns anos como contador e eu em farmácia, na universidade e continuei meus estudos.

5 -  COMO MANTER ACESA A CHAMA DO AMOR? 

A receita para o nosso casamento é: respeito, confiança e diálogo. Eu gosto muito de estar com ele, da paixão dele pelo flamengo, cachorros, café, chocolate e música, da clareza dos pensamentos, da forma como consegue lidar com as situações difíceis, da organização.


 Eu o admiro e respeito demais. Quanto ao lado psicológico, ele é meu ideal. Muitas vezes eu desabafo com a confusão dos meus pensamentos e tarefas e digo: “- E agora, o que faço primeiro?” Ele é ótimo em ajudar a me organizar, a organizar as contas da casa e muitas vezes, a organizar a minha cabeça.


6 -  O QUE FAZER NUMA SITUAÇÃO QUANDO SINTOMAS DA DOENÇA APARECEM? COMO FAZER PARA NÃO SE DEIXAR ABALAR?

Não tem como não se abalar. Acredito que é natural do ser humano sofrer quando perde alguma habilidade que desenvolveu ou a possibilidade de fazer algo que fazia antes. Além do sentimento de perda, também é preciso aprender a conviver com a curiosidade de todos e a preocupação dos familiares e amigos. Meu marido nasceu com uma vantagem para esse desafio: a inteligência emocional, que eu tanto admiro nele. Eu faço psicoterapia desde antes de conhecê-lo, o que tem me ajudado muito. Depois do impacto do diagnóstico e das primeiras limitações, pediu para fazer psicoterapia também, foi só por um tempo, mas o ajudou muito. Sofreu com a perda do trabalho, da capacidade de dirigir. Mas, como bom faixa preta de karatê que é, não perdeu a disciplina, a sabedoria e a garra. Houve a aceitação, mas não se acomodou. Faz fisioterapia e terapia ocupacional para manter a qualidade de vida, o alongamento e as atividades que gosta. Hoje recebe aposentadoria e usa cadeira de rodas. A cada nova limitação que aparece, agimos com naturalidade, pois sabemos que a doença vai avançando aos poucos. Se não dá para lutar contra, encaramos e adaptamos: - Visão dupla dificulta ver o computador?  Óculos de prisma. - Tá difícil falar?  Prancha de comunicação alternativa e tablet. Dificuldade de ler legendas no cinema? - Filmes dublados. Aliás, ele paga meia no cinema e não pagou no último jogo do flamengo que fomos. Restaurantes e compras em locais inacessíveis? – Shopping é acessível. – Dificuldade de sair todo dia para fazer terapias? – Home Care. – O medicamento é caro? - O governo fornece, nem que seja por liminar da justiça. A casa ficou sem acessibilidade? – Derruba as paredes. Tem dificuldade de ganhar peso? – Põe um botton.



Fotos do botton e do óculos de prisma.

Eu, como esposa, respeito e incentivo as suas paixões: a sala tem tudo que ele quer do flamengo, não perde um jogo do time, temos 3 cachorras, vamos a cafeterias toda semana, sempre tem chocolate meio amargo em casa e novos dvds de música para assistir no computador.

 

Fotos de algumas das paixões de Sókrates.

Da parte dele, ele me incentiva e apoia na minha carreira acadêmica, conversamos sobre nossas dificuldades e sempre achamos uma saída juntos. Minha sogra participa muito do nosso cotidiano, pois o acompanha em casa enquanto estou na UFMS na maior parte da semana. Meu marido tem a função cognitiva totalmente preservada, e, a meu ver, melhor que a minha. Sendo assim, tem e precisa participar das decisões sobre a nossa vida, a casa e decisões financeiras. Muitas vezes ajo como cuidadora, preciso de organização dos cuidados e paciência, já que o ajudo na maior parte das suas atividades diárias. Mas também sou esposa e a mulher que ele ama, por isso também preciso e exijo diálogo (DR), amor, intimidade, entendimento e cuidado.



Sókrates e Adriana em dezembro de 2012.

7 - DEIXEM UMA MENSAGEM PARA OS NOSSOS LEITORES DO BLOG

Um casal é feito com a união harmoniosa de: respeito aos desejos individuais com a disposição de ambos para construir uma convivência de paz, amor e alegria. Cada casal vai fazer um casamento diferente, mas é preciso que haja confiança e cumplicidade. 

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É com essa história linda que finalizamos a entrevista com uma das passagens bíblicas mais conhecidas e que inspira e inspirou diversas pessoas, até mesmo Renato Russo cantou sobre esse amor!

Por Bruno Moraes e Ligia Toledo

1ª Carta aos Coríntios 13: 1-7:

"Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine.
E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria.
E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse amor, nada disso me aproveitaria.
O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não trata com leviandade, não se ensoberbece.
Não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal;
Não folga com a injustiça, mas folga com a verdade;
Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta."



4 comentários:

  1. Obrigada Luciana pela bela entrevista, ficamos felizes em partilhar, e relembrar também, um pouco da nossa história, que não termina aqui, ainda temos muito a viver...

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    1. Eu que fico muito feliz e honrada ,de ter conhecido o casal,um belo exemplo para mim e tantas outras pessoas..........

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